Como sair do zero e descobrir o que fazer da vida
Um guia meio de guerrilha pra você criar seu projeto de portfólio pesoal enquanto trabalha na CLT ou outro regime
Esse não é um tutorial de como ficar rico, mas vai te deixar animado
Se você caiu aqui de paraquedas, nesse outro artigo aqui você vai entender melhor de onde vem o pensamento por trás da coisa.
Meu intuito com esse passo a passo é oferecer um jeito prático e tranquilo de se apropriar das próprias qualidades e curiosidades pra criar um portfólio próprio que sirva de ferramenta de luta pra sobreviver no capitalismo que a gente vive.
Coloquei em formato de passo a passo porque ele funcionou pra mim, mas eu fiz de um jeito meio atabalhoado, no escuro.
Esse conteúdo é pra você se:
você não consegue achar o tal do propósito e se sente mal por isso
você não tem a grande ambição de ser um unicórnio, mas quer ter uma parada sua que bote comida no prato, um cascalho pra aposentar e um axé pra viajar
você tá empregado, mas se sente ameaçado, e não tem nenhuma ideia do que fazer se for demitido
você entende o quão difícil é ficar rico, mas entende que isso não significa que você é um merda
você acredita numa virada coletiva do jogo, mas entende que precisa se virar individualmente com o que a gente tem disponível no agora
você tem vários interesses mas não consegue ver como eles se conectam
você sente que ninguém vai consumir as coisas que você faria
Passo 1: Reconectar com nosso superpoder chamado Curiosidade
Aqui o nosso objetivo é dar um carinho na sua curiosidade.
Do latim curiositas, que significa "desejo por conhecimento" ou "desejo por informação".
A gente tem essa espécie de super poder que ninguém consegue explicar muito bem. Cada pessoa tem um conjunto de curiosidades muito específica. Claro que muitas vezes o contexto em que a gente é criado ajuda, mas tem umas paradas que nascem com a gente.
Eu acredito na curiosidade como uma grande bússola pra gente.
Não tô falando de talento, embora eu até ache que o talento também tem a ver com ter espaço pra explorar alguma curiosidade.
Sabe aquele interesse por uma coisa “nada a ver” e que se deixar você passa o dia inteiro lendo ou fazendo algo sobre aquilo?
Esse é o nosso foco.
O legal é que nós temos várias curiosidades, então é um exercício que dá pra ficar fazendo sempre. O nosso portfólio é virtualmente infinito.
Você vai literalmente escrever essas curiosidades em algum lugar que você possa rabiscar em volta. Pode ser um miro, um papel grande, figma. O que você preferir.
A gente pode tentar pensar em 3 categorias, pra facilitar:
Temas de interesse
Curiosidades aleatórias
Coisas que sou bom naturalente, sem esforço
Esse é o meu, por exemplo (e eu mexo nele toda hora).
Não precisa se ater muito ao que difere um tema de interesse de uma curiosidade aleatória.
É mais importante só reconhecer o que você tem interesse. Sem julgamentos. Sem pensar se dá pra fazer negócio com isso ou não.
O “coisas que sou bom” é legal porque te mostra temas de interesse que tavam meio na sombra, por que a gente se liga pouco no que é natural pra gente.
Então, no meu exemplo ali em cima, “entrevistar” não necessariamente é um tema que eu pesquiso, leio sobre. Mas ter colocado ele ali me fez perceber que isso pode ser uma coisa interessante de aprofundar e eu provavelmente vou aprender coisas fodas se eu der uma explorada.
Passo 2: Explore e conecte suas curiosidades
Aqui a brincadeira fica maneira.
O primeiro passo é explorar essas curiosidades. E quando eu falo explorar, eu tô falando disso aqui:
A graça é ir percebendo como cada tema abre uma porta pra infinitas possibilidades. Sejam elas de pessoas pra se inspirar, novas formas de olhar praquele tema, modelos de negócio, demandas escondidas, potenciais audiências…
Faz esse exercício com tudo que você listou e você vai ver o tamanho do universo de cenários que existem, só com o que você se sente atraída.
Depois disso, é conectar essas descobertas e ver que tipo de ideia sai da sua cabeça.
E não precisa ser uma parada estática que você vai fazer uma vez só. Aqui vira o seu terreno fértil pra voltar toda hora e encontrar novas pistas de exploração.
Por exemplo, usando meu caso aqui:
Alguns caminhos apareceram pra mim com essa organização ali:
escrever sobre estratégia de cultura
conectar artistas novos com pessoas abertas a ouvir coisa nova
workshops/cursos de criatividade
mentorias/cursos de estratégia com a lente da cultura
conteúdo sobre análises culturais
conteúdo sobre movimentos que emergem da cultura de música underground
explorar o processo criativo de produtores em ascenção e documentar
consultoria de cultura pra empresas
Foi dessa junção inclusive que nasceu o
e o Circo Complexo.E aí não tem nem 1/10 das conexões possíveis de todos os temas que eu listei lá em cima.
Isso é pra você parar de pensar que “não tem nada pra falar”. Tem sim.
Passo 3: Criar contrastes
Aqui a gente começa a dar um pouco mais de contorno do que nosso projeto pode ser.
A ideia é reduzir um pouco o nosso escopo, pra facilitar nosso processo criativo.
Como a gente tá desacostumado a pensar desse jeito pra nós mesmos, a gente acaba ficando meio enferrujado.
A liberdade de pensar qualquer caminho pra nós mesmos também nos paralisa.
Então a parada é criar 4 espaços de constante investigação, que vao te ajudar a encontrar a sua assinatura criativa.
São eles:
→ Não gosto, não quero fazer
Dar contraste dos seus limites éticos, estéticos e processuais.
Não gosta de aparecer na câmera? Tranquilo. Não curte lidar com clientes? Anota. Não faria um projeto pra um segmento específico do mercado? Boa.
Deixa bem claro o que não soa como caminho ideal pra você. Isso já dá uma direcionada no nosso pensamento.
A gente vive num mercado onde parece que a única saída é ser influencer. E isso não é verdade.
Mas talvez pra você conseguir transformar algo do seu projeto em negócio, você precise superar uma ou outra barreira.
Tenta deixar claro quais as coisas você nunca gostaria de fazer e quais você não curte, mas conseguiria se for necessário
→ O que eu quero ser
Dar contraste pro estilo de vida que voce gostaria de ter e como gostaria de ser percebido.
Sabe aquela coisa do “se você pudesse fazer qualquer coisa o que faria?”. Pois é meio que chegou esse momento.
Não pelos motivos que a gente gostaria, mas pelo momento histórico que a gente vive.
Então dá uma viajada imaginando mesmo qual seria uma vide interessante pra você.
Eu sei que é difícil imaginar uma vida onde a gente faz o que gosta, tem qualidade de vida e consegue se sentir bem, traquilo.
Mas só por que é difícil não significa que é impossível. Só que como é muito difícil, a gente vai perdendo o costume mesmo de imaginar nossa vida como a gente gostaria que fosse.
Fizeram a gente desistir de sonhar outros sonhos e aí destreinamos nosso sonhar.
Exemplo meu: eu gosto muito de trabalhar ouvindo música no talo tocando bateria imaginária. É quando eu melhor produzo. Então eu faço de tudo ao meu alcance pra isso ser uma boa parte da minha rotina de trabalho.
→ Me inspira ou me expande
Dar contraste ao que voce curte através de outros criadores e ver o que se pode pegar pra você.
O tipo de conteúdo e a forma como você consome tem pistas muito interessantes do que pode ser sua oferta, ou seu segmento.
Aqui o maneiro é tentar dissecar as coisas que você gosta pra fazer você também. Fazer o que se gosta também significa isso.
Aquela youtuber que você até assina, qual o lance? São as ideias? É a forma de falar? É alguma coisa que você repara na estética?
E o livro que você recomenda pra todo mundo, o que ele desperta em você? Por que você tem tanto orgulho de recomendar esse livro?
Nessas respostas a gente vai encontrando pequenos artefatos que a gente pode tentar entregar também.
→ Teríamos o mesmo público
Dar contraste ao que já funciona e te dar mais tranquilidade sobre mercado e posicionamento.
Aqui você vai procurar pessoas ou empresas que pareçam com você e estão se virando no mercado.
Pode ser de qualquer tamanho, você pode gostar ou não.
Mas quando tiramos a lente da competição e colocamos a lente da colaboração, podemos olhar pra essas empresas e pessoas como parceiros na validação de mercado.
Tem alguém falando exatamente o que você ia falar? Show. Uma parte da sua hipótese tá validada.
Passo 4: Pense em portfólio, não em produto
Quando a gente vai pensar em criar alguma coisa que pode dar uma grana lá na frente, é meio natural pensar só nessa coisa e tentar ir moldando ela.
Esse é um jeito de fazer as coisas.
Outro jeito é ampliar um pouquinho esse campo de visão e conectar as suas “ofertas” de um jeito que elas se ajudem, mas não necessariamente todo mundo vai dar dinheiro.
Para não ficar travado em pensar num assunto como o fio condutor de tudo, experimenta pensar que uma coisa pode ser seu motor pra criar textos, enquanto outro assunto pode ser o seu ganha pão, enquanto um outro assunto gera conexões.
Pra fins de inspiração, hoje esse é o estado atual do meu portfólio pessoal.
Mas antes, em 2022, ele era assim:
Antes disso, em 2020:
O lance aqui é acreditar no juros compostos da parada. E já começar do zero pensando em portfólio é um baita atalho. Já te permite ir pensando em qual parte dos seus interesses você vai pensar em monetizar e quais tem mais a ver com algo que crie audiência, por exemplo.
Também te mostra conexões que talvez tivesse passadas desapercebidas.
Passo 5: Escreve
Se você já tem o costume de escrever, pula esse aqui.
Se não, escreve. Não sei se por texto eu vou ser enfático suficiente aqui, mas: ESCREVE PRA CARALHO.
Alinha a mente, cria conteúdo, clareia caminhos, mostra possibilidades, te mostra suas fragilidades, te obriga a se expor em algum nível.
Tem muitos pros e nenhum contra eu diria.
Várias vezes eu percebia que tinha uma ideia na cabeça que eu achava muito maravilhosa, mas o simples fato de escrever sobre ela já mostrava diversos furos no pensamento.
Escrever te coloca numa outra lógica de visão das coisas e essa perspectiva ajuda muito a ser mais estratégico.
E, nesse caso, ser estratégico com você mesmo.
Conclusão: revisa, muda tudo, mas continua
O mais difícil era até aqui.
Depois de uns dias vai ser estranho. Depois melhora. Depois piora. Depois parece que a gente é meio bobo de estar fazendo.
Eventualmente duas coisas se conectam e tu fala “carai, num é que dava?”.
Sei que parece muito, mas sei lá, pra mim tem valido a pena. A sensação de estar mais a vontade com o que eu posso oferecer e como testar essas coisas dá uma liberdade e uma confiança extra.
Ainda me pego vários dias meio desesperado achando que eu devia saber fazer alguma coisa que eu não sei e tudo vai por água abaixo.
Mas aí eu tento usar isso como mais uma pista de curiosidade e tirar o peso da coisa.
Pra quem não me conhece, sou Renato Mendes e eu que escrevo o Estratagema. Sou formado em comunicação, mas virei estrategista de produtos digitais por puro acaso. Quando as pessoas me apresentam falam que eu sou muito bom de conectar coisas aleatórias e ajudar elas a pensar em coisas não tão óbvias, ou aprofundar o óbvio de um jeito novo. Falo sobre cultura, tendências e estratégia, com tudo que tá no meio disso. Tento fazer todo mundo se sentir criativo e curioso.
Eu dou um curso online de Estratégia de Produtos Digitais na Aprender Design. Lá a gente passa por 5 encontros ao vivo online pegando cases reais e aprendendo na prática o que é essa tal de estratégia.
Amei a praticidade que vc apresentou as “etapas” e a clareza na construção da lógica!! Bem inspirador pra noobies como eu :)
Além de ser divertido ver alguns fragmentos in loco de dentro da sua caixola, isso só ajuda ainda mais a eu buscar entender o que eu posso fazer com a minha!