Caçando Tendência - Brasa Tendê 2025.2
Tendências com o ritmo brasileiro no segundo semestre do final do primeiro quarto do século XXI
Movimentos culturais e econômicos importantes nesse Brasilzão. Pra gente ficar atento e se organizar.
O que você vai ler aqui:
» Esse artigo é longo, então já salva ele aí pra ir consumindo com calma ao longo da semana.
» Use o navegador de temas aqui do lado esquerdo pra facilitar ou então clica na lista aqui em cima, cada número é um link pra parte do texto correspondente.
Se você caiu aqui de paraquedas, no começo do ano eu lancei essa braba aqui embaixo, com um olhar mais amplo. Se quiser dar uma olhada antes →
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1/13 Dissonância Econômica - Descasamento da bonança da nação vs. empobrecimento do povo
Fechamos 2024 com o crescimento do PIB maior do que esperado e 2025 segue a mesma toada, com algum otimismo do mercado. Emprego recorde e fluxo de capital estrangeiro em alta. Ao mesmo tempo a inflação da cesta básica foi o triplo da inflação total, quase 80% das famílias estão endividadas e a aprovação do governo segue em crise.
Esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Nos EUA rola a mesma coisa e frequentemente acontecem debates na TV sobre o descasamento entre os bons ventos econômicos do país e a realidade apocalíptica da população.
→ Não existe um termo oficial ainda pra esse fenômeno (ou se existe me fala) e por isso tô chamando aqui de Dissonância Econômica. A tendência é que essa tensão se agrave ainda mais com as eleições chegando. ←
Mais dados importantes:
>> Apesar de estarmos no melhor patamar da história de pessoas acima da linha da pobreza, ainda temos quase 63 milhões de brasileiros vivendo com menos de R$665 (a linha de pobreza definida pelo banco mundial)
>> O salário mínimo calculado pelo DIEESE para sustentar uma família de 4 pessoas deveria ser de R$7.156,15
2/13 AI aumentando desigualdade e criando novos gaps cognitivos e econômicos
O cenário
Aceleração da adoção de AI sem redução da desigualdade aumenta o abismo entre classes econômicas.
Sem investimentos em capacitação digital, o país pode formar uma geração de excluídos digitais diante da revolução tecnológica.
De um lado vibe coding, n8n, MCP, do outro lado inteligência artificial ainda nem é uma palavra.
Ao mesmo tempo tem pesquisas mostrando que a carga nova de trabalho criada pelo uso de AI acaba “compensando” as horas salvas - ou seja, aumentamos o escopo ao mesmo tempo em que ficamos mais produtivos. Quem diria…
Consequências primárias
Memos de Shopify, Fiverrr e Duolingo sobre cultura AI e RHs já escaneando currículos por experiência com AI dão o tom do que tá rolando.
→ Vagas de entrada devem sofrer mais inicialmente, o que aumenta ainda mais o gap educacional no Brasil. ←
→ Espere ver empresas metendo os pés pelas mãos querendo copiar os movimentos de “cultura de AI” demitindo gente sem planejamento adequado. A ver qual vai ser a empresa brasileira que vai querer esse título de “ser a primeira a fazer no Brasil o que já é normal lá fora”. ←
Apesar de enxergar o valor dos agentes e ver que de fato tá muito mais fácil testar ideias atualmente, minha preocupação mora na velocidade em que isso acontece.
Ainda temos uma massa gigante de trabalhadores se qualificando digitalmente e já estamos dando esse novo salto tecnológico.
Na prática, na minha leitura, isso se traduz em:
- demissões diminuem postos de trabalho disponíveis
- demitidos aumentam a pressão no salário geral, o que diminui a barganha de quem continua empregado
- pra ficar na série A além de atualizado vai ter que engolir mais escopo
- quem não se atualizar minimamente fica fora do jogo “série A”
- o jogo série B e C fica mais sangrento e achata o mercado pra baixo
- vai ter muita gente sem conseguir espaço indo atrás não da gig economy, mas da economia precarizada (entregas, uber etc.)
- saturação de oferta na economia uberizada diminui valor da hora/homem
Consequências secundárias
E aqui tem um adendo que é a dissonância cognitiva entre o que parece que dá pra fazer e o que dá pra fazer.
Um exemplo: sim, é possível criar um produto do zero e automatizar umas campanhas de mídia tudo sozinho com agentes, mas fazer isso dentro de uma empresa com um canavial de entraves jurídicos (necessários!) é oooooooutra coisa. O problema é que muitas vezes a camada executiva não sabe distinguir uma coisa da outra.
“Vibe coding is easy and fun, but sloppy and insecure” (vibe coding é fácil e divertido, mas bagunçado e sem segurança).
→ Vamos ter que lidar com essa sanha por fazer tudo com agentes enquanto esses agentes ainda não estão prontos pra entregar o nível de exigência que empresas precisam.←
3/13 Pirataria em alta
Seja no BTV, nas camisas tailandesas ou nas reconfigurações territoriais entre milícia vs. crime organizado vs. estado, a pirataria está em alta no Brasil.
Com a facilitação de acesso ao mercado de “réplicas premium” e o constante aumento de preço das plataformas de streaming, cada vez mais pessoas estão recorrendo (novamente) à pirataria.
Aqui o ponto é a conveniência que se aliou à qualidade. A diferença entre uma “tailandesa” que vem da China e uma camisa oficial quase não existe, a não ser pelo preço exorbitante.
A pirataria acontece quando há uma demanda muito grande e os meios convencionais do mercado não dão conta. Algum lado sempre estoura.
Na música isso só foi resolvido quando fazer streaming ficou mais conveniente e barato do que baixar música. Quem acabou se dando mal aqui foi o artista.
Como disse Snoop Dogg ao desistir do Spotify:
“Eles me mandaram um relatório mostrando que eu tinha um bilhão de streams. Quando perguntei quanto dinheiro aquilo representava, não chegava a 45 mil dólares”
→ A camisa vermelha da seleção brasileira que se cuide.←
4/13 Neoaposentadoria (ou a não aposentadoria)
Existem basicamente 2 jeitos de se aposentar: o público e o privado. Em ambos os casos a ideia é que a gente tenha uma renda mensal pingando na conta pra gente curtir o que resta da vida.
O problema é que tá difícil juntar dinheiro e mais difícil ainda fazer restar vida.
>> Apenas 19% dos brasileiros não aposentados começaram uma reserva financeira para a aposentadoria. Na classe D/E, esse número cai para 10%, enquanto na A/B é de 32%.
>> Estudo do Banco Mundial projeta que, se nenhuma reforma for feita, a idade mínima para aposentadoria no Brasil pode chegar a 78 anos até 2060
O que é
Juntando isso com o fim do propósito no trabalho temos esse reempacotamento do empreendedorismo até morrer.
A ideia central é que na real não queremos aposentar, queremos liberdade financeira. A expectativa de vida aumenta e com ela a nossa necessidade de sobreviver. Mas, sabemos como é o mercado com pessoas mais velhas, apesar de termos bons ventos quanto a isso.
Nesse sentido, dado que ter formação e experiência no mercado não são mais tão diferenciais assim, faria mais sentido usar a CLT pra financiar sua jornada interior de descobrir e validar que tipo de oferta única você tem.
Essa oferta única além de valiosa pro mercado, seria valiosa pra você. Afinal, se a gente consegue encontrar coisas que temos prazer em aprender, produtizar e ensinar, isso nos daria liberdade financeira e “aposentadorística”. Se aposentar - parar de trabalhar e ficar de pernas pro ar - deixaria de fazer sentido nessa lógica.
Eu até concordo em partes com essa visão, curto boa parte da linha de pensamento do pessoal do
por exemplo. E começo a ver alguns conteúdos aqui no Brasil, principalmente no substack, indo em direção a isso.Meu ponto não é ser contra ou a favor, mas sim ficar de olho no que acontece a partir disso.
Consequência prevista - Enfraquecimento Político
Um subproduto perigoso é o enfraquecimento na disputa política por melhores condições de aposentadoria. Tudo bem que uma parte considerável de nós millenials digitalizados ache legal essa visão de mundo, mas tem milhões de outras pessoas no Brasil que sequer tiveram acesso a essa visão.
O brasileiro real sempre trabalhou até morrer. A diferença é que agora estamos digitalizando isso e dando contornos produtizados de vida com propósito.
→ Na dúvida eu tô tentando fazer tudo. Previdência pública, privada, guardar dinheiro, CLT, PJ e tentando novas vias neoaposentadorísticas aqui no EstrataGema.←
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5/13 Boom das feiras
Não tô falando de feiras de tecnologia ou de carros. Tô falando de feiras de rua mesmo. Aqui no RJ (e em alguns lugares da Bahia, Pernambuco, São Paulo que são lugares onde tenho informantes rs) as feiras estão abarrotadas de pessoas e pulsam em crescimento.
Nas ruas
Desde feiras maiores e renomadas como a feira da Glória até pequenas feiras locais, esse modelo de comércio tá muito forte.
Talvez tenha uma correlação entre isso e o crescimento de shoppings, a estagnação de renda e a paixão do brasileiro pela rua. Não consegui encontrar dados legais suficientes pra trazer aqui. Mas minha intuição diz que tem a ver.
A estética da feira também tá sendo utilizada pra dar ares de ruas a lugares fechados. Aqui no RJ tem pelo menos 2 lugares assim: o Uptown e o Downtown.
E nos prédios
Feiras de prédios me pegam muito. Tem a feirinha itinerante do cara que só vende hortifruti em prédios; tem a feirinha de empreendedores do prédio que reúne todo mundo que tem algo pra vender pros próprios moradores do prédio…
Outro dia tinha uma tatuadora numa dessas feiras aqui no prédio que eu moro e ela tava com a agenda cheia, num domingo.
→ Cada vez mais as cidades vão se fechando em seus próprios super condomínios. Talvez a feira seja uma reconexão desses condomínios de algum jeito. Ou talvez seja uma forma de levar a lógica do “condomínio-tem-tudo” pra prédios mais antigos que não foram pensados pra isso. ←
A ver.
6/13 Boom dos festivais feat.
Essa tendência foi mapeada, estudada e escrita em parceria com o @evenculturismo. Por lá rola um trabalho bem legal de conectar eventos, cultura, sociedade e empreendedorismo, mostrando como eventos (culturais e corporativos) são peça chave na construção do futuro.
Grandes, pequenos
| @
|→ O boom dos festivais é muito real. Os dados mostram que mais de 400 festivais aconteceram só em 2024.Mas por que tantos festivais surgiram ao mesmo tempo?
Há alguns fatores principais. O primeiro, pra mim, com certeza é o efeito rebote do isolamento: o desejo coletivo por viver experiências presenciais, por se sentir parte de algo. Os festivais de alguns anos para cá não entregam só música. Entregam pertencimento, liberdade, identidade, curadoria e cultura. São cidades temporárias, com seus códigos, suas estéticas e suas tribos. E isso se tornou um valor por si só. A vida é ao vivo!
O segundo ponto é estrutural: hoje é mais fácil do que nunca colocar um festival de pé. O acesso a tecnologia democratizou ferramentas de produção, venda de ingressos, logística e comunicação, por exemplo. Hoje, quem quer colocar um festival de pé e sabe como produzir eventos consegue e, por conta disso, as oportunidades se tornaram mais acessíveis. Coletivos regionais conseguiram ocupar mais o espaço e a descentralização do circuito é um avanço real e necessário.
E, claro, tem o papel das marcas. As marcas enxergaram que a experiência criada em um festival é algo que vira memória e isso é muito rico. Essa vivência impacta até a nossa expectativa de vida, sabia?
Não à toa, o evento deixou de ser um canal complementar e virou pilar estratégico de inúmeras marcas aqui no país. Hoje, qualquer evento, do pequeno ao grande, do nicho ao mainstream, é palco ideal para construção de marca, lançamento de produto e, principalmente, gerar conexão emocional.
O festival, que antes era a cereja do bolo da verba de marketing, virou o próprio prato principal.
Isso cria um ciclo virtuoso: mais investimento → mais festivais → mais artistas → mais público → mais dados → mais patrocínios.
Mas temos um ponto de atenção: e os cancelamentos? Eles existem, sim. E assustam. Os altos custos pós pandemia, o olhar do público para diversas outras opções e até mesmo algum ajuste de rota das marcas podem impactar na realização de um evento desse porte, mas não diminuem o valor simbólico e emocional do festival. O hype segue firme porque o formato é poderoso. Ele se reinventa. O público aceita pagar caro, viajar, acampar, porque o que se leva de um festival é mais do que um lineup — é uma memória viva. Um corte de tempo que vira história.
Para onde vamos agora?
Nos bastidores, a gente sente os ventos mudarem antes da tempestade. E alguns movimentos já apontam tendências para os próximos anos:
Curadorias mais segmentadas e posicionadas
O tempo dos festivais “para todo mundo” está ficando para trás. Só os gigantescos vão existir nos próximos anos, pois crescem os eventos com voz própria, estética definida e diálogo claro com tribos — musicais, sociais ou ideológicas. Um olhar mais nichado sobre o conceito, música e experiências é um oceano azul.
Interiorização e novos territórios
Com a saturação dos grandes centros e os custos crescentes, festivais começam a ocupar outras cidades. Isso é estratégia, inclusão e até sobrevivência. E é daí que nascem poderosos festivais que servirão de "categoria de base" da música brasileira dos próximos anos.
Dados como insumo estratégico
Quem produz hoje tem nas mãos mais do que ingressos vendidos. Tem dados valiosos que ajudam a entender comportamento, ajustar rota e entregar mais valor a marcas e público. O digital virou aliado — e não inimigo — do ao vivo. Da biometria facial à compra de produtos antecipadamente via app, por exemplo, vamos ter muitas oportunidade à frente de quem produz.
Experiência como protagonista
Muitos festivais esgotam ingressos antes de anunciar o lineup. Isso diz tudo. A narrativa visual, o clima, o propósito e a sensação de “fazer parte” pesam tanto quanto o som que vai tocar. O festival virou lifestyle, e isso impacta tudo: do planejamento às ativações.
Sustentabilidade e acessibilidade como critério — não como extra
Se o boom trouxe potência, ele também cobra maturidade. Não dá mais para pensar só no próximo evento — é preciso pensar no legado. Impacto ambiental, responsabilidade social e respeito à pessoasl com deficiência não são tendências: são obrigações. O mercado amadureceu, e a régua subiu.
Big turnês
Ainda vamos ver muito nos próximos anos as Big Turnês festivais. Um exemplo claro disso é a Tardezinha, que em 2023, fez uma Big Turnê por estádios do Brasil e que voltou em 2025 maior, com mais público, mais estádios, mais patrocínios, e por aí vai! Com certeza teremos Tardezinha em 2027, 2029, e até quando o Thiaguinho conseguir cantar. Nós vamos começar a ver com outros artistas acontecendo no Brasil ainda.
O setor de eventos pulsa, tropeça, reinventa e sobrevive — como a própria música que o move. Podemos estar vivendo uma bolha de festivais e o desafio agora é garantir que essa expansão se sustente, com responsabilidade, consistência e propósito, para que o hype vire legado, o boom se torne estrutura e não uma bolha prestes a explodir.
E Gigantes - Artista como Festival
Na apoteose do Rio de Janeiro, BK fez um festival pra lançar a turnê do seu novo disco, o DLRE.
Lineup absurdo, evento enorme. Muitos elogios e uma porta aberta para outros artistas seguirem o mesmo caminho.
→ Assim como citado ali em cima o exemplo do Thiaguinho, a gente bota fé que mais artistas vão perseguir esse formato.←
7/13 Música, AI e Universos Paralelos
Aqui vejo 2 movimentos confluindo e mudando paradigmas.
AI na Produção
Tenho testado umas AIs que facilitam a criação de músicas e olha, como a parada evoluiu. Pra quem tem zero contato com isso, vou te dar a planta: fazer beat com qualquer barulho com a boca.
→ nota: meu sonho sempre foi meio que ter isso de algum jeito. Eu consigo ter umas ideias legais mas o tempo entre ter a ideia e conseguir traduzir em algo num beat sempre me fez perder o encanto. Então eu particularmente tô animado com a evolução desse case aqui em específico por que acho que abre uma porta criativa pra muita gente.
Dá uma olhada nessa mina fazendo um beat do 0 só com o plugin da Vochlea:
E tem umas AIs criando música do zero. Tipo a Suno e a Mureka. Aqui a entrada é outra, mas também curiosa. Você dá um prompt, escolhe uns estilos e ambientações, coloca uma letra (ou pede pra ela gerar pra você), escolhe a voz e deixa rolar.
→ Vejo que essas tecnologias podem não só trazer novos criativos pro jogo, mas expandir o campo criativo de quem já trampa com música. Um canavial de caso de uso onde essas ferramentas podem ajudar a trazer novas ideias ou testar rápido alguns caminhos criativos.←
AI no Catálogo
Se você ainda não esbarrou em versões de músicas famosas recriadas por AI, recomendo ver o que tá rolando.
Vou te dar um exemplo brasileiro: A Blow Records.
A graça tá em ouvir em ritmos “nada a ver” versões de músicas populares e em grande maioria “proibidões”. É um novo universo de releituras em soul, samba, bolero…
Um destaque especial pras fanfics que a galera cria nos comentários:
→ Minha visão aqui é o mar de oportunidades (e ameaças) que isso gera pra basicamente todo o catálogo atual disponível. Cada catálogo tem o potencial de dar origem à vários universos paralelos onde o artista canta em outro estilo. Essa aqui eu tenho uma ideia de negócio, mas tá lá no final, na área com as oportunidades por tema.←
8/13 Memética como linguagem natural
Você já se perguntou por que a gente gosta tanto de meme?
Processamento e calmante
Eu tenho uma teoria de que o meme é a nossa ferramenta de processamento emocional digital. É através dele que não nos sentimos sozinhos, que pensamos “alguém me entende”. É pelo meme que sentimos certas permissões fazer duras críticas à sociedade. E é por ele que performamos uma certa rebeldia midiática que talvez tenha muito alcance, mas seja potencialmente inócua.
E, pra mim, é por isso que ele viraliza. Por que processa um sentimento nosso de forma coletiva. Mesmo que por um curto período de tempo. É como se cada meme fosse um “pulsar” de processamento sentimental coletivo.
>> E aqui eu tenho um ponto preocupante que é: vivemos na era da performance perfilática na internet. O que por si só já nos tira poder combativo na política. O meu medo é que o lado negativo do meme seja o fortalecimento dessa prática. Sentir que processamos a raiva ao viralizar junto com o meme e acalmar.
>> O poder calmante do meme é o outro lado da moeda que precisamos ficar atentos.
Empresa deve fazer meme?
E aí tem um monte de empresa que tenta fazer meme e fica meio esquisito, né?
Por que a linguagem memética é foda de criar mesmo.
Deixo aqui o exemplo da Melted que nasceu fazendo meme no Instagram e hoje é uma empresa de mídia que sabe como poucos navegar e criar conteúdo de impacto na internet.
→ tem uma estratégia de growth com meme? sua empresa manja de memética pra botar a cara nesse espaço? ←
9/13 Sinoaceitação
Se você ainda não usa o substack como rede social (nada contra), eu escrevi esse pequeno texto aqui sobre como a China vem pouco a pouco quebrando nossos preconceitos e estigmas, se conectando profundamente à nossa cultura.
Seja pela Alibaba, seja pelo TikTok, ou pela BYD, a real é que o bicho papão da China Comunista tá perdendo força.
Entre a sinofobia (rechaçar tudo que é chinês) e a sinofolia (achar que a China vai salvar o mundo) estamos diante da paulatina sinoaceitação.
→ Prevejo uma aceleração disso aqui pelos próximos meses. Conforme a guarda com a China abaixa, naturalmente vamos ficando mais tranquilos não só com os produtos (o que já acontece desde 2000), mas também símbolos culturais, histórias e formas de pensar.←

10/13 Ecovilas, êxodo urbano 3.0 e vida on-demand-grid
O que antes era um conhecimento muito contido e o acesso era relativamente caro, agora está mais acessível. Bioconstrução, agrofloresta, energia renovável, água no terreno, internet banda larga via satélite.
Crescem perfis de instagram de imobiliárias vendendo casas e terrenos no interior por valores que quando comparados com o metro quadrado urbano, estão uma pechincha!
A pandemia já havia sido um catalisador desse êxodo urbano. Privilégio de alguns, eu diria que foi um êxodo 2.0. Agora, com mais soluções depois desse boom, tenho visto mais pessoas fazendo esse movimento, mas agora com menos correria do que em 2020.
Não faz sentido romantizar a vida rural, mas também não faz sentido descartá-la. Uma vida mais afastada dos grandes centros, planejada e executada de forma circular e sustentável é possível. Mesmo pra quem quer continuar trabalhando com internet.
E ainda tem muuuuita coisa a melhorar nesse tema.
→ Pra quem tem essa vontade de fugir pro mato, dá uma olhada no Instituto Pindorama.←
11/13 Slow fast content - Lento conteúdo rápido
10 anos atrás a Vox começava a popularizar um formato muito curioso no youtube: mini documentários.
Estética cinematográfica, edição bem feita ilustrações profissionais. Assuntos densos explicados de forma simples e, o melhor de tudo, em pouco tempo.
Em 2018 a série Explicando, da Vox, estreou no Netflix e virou febre. Palmas pra Netflix por apostar no formato de documentário enquanto entretenimento.
Mas tinha algo a mais ali.
Pra mim tem a ver com recompensa. Nos sentimos mais inteligentes quando vemos esse tipo de conteúdo. Quem não quer ficar inteligente em 2 minutos?
Essa transformação do conteúdo denso e explicativo em algo mais divertido não é necessariamente novo, vide Telecurso 2000 e Castelo Ra-tim-bum. O ponto aqui é que com o fim da grade de horários, agora podemos escolher quando consumir esse tipo de conteúdo. E a gente escolhe consumir bastante esse tipo de conteúdo.
Além disso, não é tão fácil assim fazer um assunto difícil ficar palatável ao ponto de ser assistido enquanto se come um hambúrguer.
Docussel - documentários em carrosséis
Corta pra 2025 e temos uma enxurrada de carrosséis no Instagram com uma pegada documental, mas com texto ao invés de vídeo.
Tataraneto do Telecurso, neto da Vox, filho do algoritmo. Nasce o docussel. Essa febre de carrosséis meio matéria meio opinião, trazendo recortes muito específicos do mundo.
Vídeo demora, às vezes não tem legenda. Carrossel pode ser só texto ou texto com imagem. Permite que a gente consuma o quão rápido a gente quiser.
Chamam de “slow content”. Mas será que é slow mesmo?
Particularmente eu gosto muito desse formato. Consumo bastante. Mas justamente por gostar eu tenho reparado que a informação não fica tanto na minha cabeça. Além de perceber já uma saturação. O tempo inteiro tem um minidoc em formato de carrossel pra ver. Às vezes eu me interesso pelo assunto, mas pelo cansaço eu acabo salvando pra não ver depois.
O lento acabou ficando rápido. Mais uma ambiguidade do nosso tempo. Um lento conteúdo rápido.
É uma shortização do conteúdo longo ou uma longzação do conteúdo curto? É realmente profundo? Ou só um pouco mais profundo?
→ De um lado acho foda aprendermos coisas desse jeito - acho real que é uma nova possibilidade de aprendizado que pode ser aproveitada por qualquer área, assim como as threads - mas ao mesmo tempo sinto que estamos criando cada vez mais novas formas de não aprender nada de fato. ←
Textos longos de volta
Será que estão mesmo? Vejo um movimento interessante de migração aqui pro Substack dando força pra esse argumento, ao mesmo tempo que a newsletter ganha cada vez mais força e aceleração.
Mas tudo que vai volta, né? O quanto conseguimos realmente consumir longos conteúdos de tanta gente produzindo longos conteúdos?
No final acho que o resultado é uma disputa cada vez mais acirrada por quem tem o ponto de vista mais astuto sobre as coisas.
Ou talvez a gente só esteja escrevendo pra ser encontrado por buscas de AIs fazendo deep research.
→ De qualquer forma vejo movimentos interessantes de mais pessoas próximas escrevendo mais. E escrever é uma ferramenta poderosa pra vida inteira, não só profissional.←
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12/13 Vibe Anthropologing (?)
-> Vibe é o termo em inglês que tá tomando corpo no mundo digital e ele fala sobre criar coisas digitais sem precisar saber a parte técnica por trás, através de comandos (promts) pra uma AI.
-> Vibe coding por exemplo é programar produtos digitais só conversando com AIs, vibe marketing é sobre criar campanhas automatizadas sem saber mexer em ferramenta nenhuma.
-> O “vibe” vem de fazer as coisas literalmente conversando.
Vejo como tendência no Brasil porque tem uma enxurrada de paginas dedicadas a fazer esse tipo de coisa, em vários nichos. Já esbarrei nesse tipo de coisa no futebol, música, arte, literatura, negócios, branding, AI, paternidade, ecologia…
Essa tendência conflui muito com a anterior. O docussel é o formato preferido dos trendhunters atualmente.
Será que o futuro dos trend hunters é o vibe anthropology? Navegar e aprender rapidamente sobre uma tendência, escrever sobre ela, testar coisas, conectar com outras.
→ Se tudo tá ficando muito mais rápido, esses movimentos culturais (principalmente os digitais) tendem a ficar mais rápidos também.
Análises muito longas e lentas talvez comecem a perder espaço.←
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13/13 AI no circuito legislativo no Brasil
Projeto de Lei 2338/23 foi iniciado no final do ano passado e está passando pelas primeiras lapidações.
As discussões estão em torno da proteção de dados, ética, direitos fundamentais, propriedade intelectual e riscos à humanidade.
Eu botei a Faye pra ficar de olho no andamento desse projeto na câmara e sugiro que você faça o mesmo. Esse é um caso de uso interessante de AI: nos manter profundamente informados sobre o que rola sobre leis que impactam nosso dia a dia.
Esse foi o prompt que eu dei:
Me mantenha atualizado sobre tudo que acontecer com o projeto de lei 2338/23. Ele é de extrema importância pra nós.
Quero saber exatamente o que está acontecendo, como está reverberando nas redes, os bastidores e possíveis problemas.
Me mostre possíveis vieses embutidos e como as matérias podem estar mais inclinadas para esquerda ou direita.
Se atualize também com o que ocorrer na Europa com o Regulamento (UE) 2024/1689 e com a AI safety bill SB-1047.
Além disso, conecte tudo que sair com o overlooked framework para que eu possa ter uma análise crítica do que está acontecendo.
→ Vai ser sangrento. A polarização que não arrefece vai ser esgarçada nesse tema até o limite. Vamos precisar ter muito cuidado e atenção com o que iremos importar da Europa e dos EUA. Talvez alguma influência da China, principalmente agora com a reeleição da Dilma pra presidente do NBD. Preparem suas AIs pra ajudar vocês a destrinchar as letras miúdas das pautas que serão discutidas. ←
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Deixo aqui um adendo que achei recentemente e parece interessante - uma galera criando um movimento para imaginar um novo contrato social:
Eu dou um curso online de Estratégia de Produtos Digitais na Aprender Design. Lá a gente passa por 5 encontros ao vivo online pegando cases reais e aprendendo na prática o que é essa tal de estratégia.
Oportunidades de negócio
Legal, muita coisa acontecendo, mas o que fazer com isso? Eu separei algumas ideias de negócio que estão aparecendo ou que podem surgir em cada um dos 13 pontos listados.
São mais de 60 oportunidades espalhadas pelas tendências mapeadas.
E você? Percebeu alguma coisa que vai influenciar nossa vida até o final do ano e eu não botei aqui? Me manda!
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